quarta-feira, 21 de março de 2012

Sala de Arte e Ensaio exibe a Dúvida

O Projeto “O Ensino em Sala de Arte e Ensaio” exibe, nesta quinta-feira, 22, o filme a Dúvida (Doubt, USA, 2008) do dramaturgo e diretor norte-americano John Patrick Shanley. A projeção inicia às 10h40, no auditório do Ateliê de Artes, seguida de debate e troca de idéias com a turma da disciplina Introdução à Teoria do Conhecimento do Curso de Museologia.

As atividades de cineclubismo do projeto iniciaram na quinta-feira, 15, com exibição do documentário Janela da Alma (BR, 2001), de João Jardim e Walter Carvalho.




Exibição do documentário Janela da Alma, título disponível pela Programadora Brasil, serviço do Ministério da Cultura, criado pela Secretaria do Audiovisual.



Contemplado com o edital PROINT 2012-2013, o projeto “O Ensino em Sala de Arte e Ensaio” tem como objetivo promover uma série de atividades de cineclubismo, oficina e seminário de processos criativos em Cinema e Audiovisual, além da produção de curtas. O projeto é coordenado pela professora Ana Cláudia Melo e integrado pelo professor Ricardo Harada, ambos do curso de Cinema e Audiovisual, e também pela professora Carmen Silva, do curso de Museologia.

Sobre o Filme a Dúvida....




A redenção da Dúvida

Ana Claudia da Cruz Melo*


Primeiro no teatro e depois no cinema, a Dúvida (Doubt, USA, 2008), do dramaturgo e diretor norte-americano John Patrick Shanley, conquistou platéias e críticos de diversos países do mundo quando foi lançado. Parte desse sucesso é resultado do enredo construído por Shanley. Por meio desta trama, ele exercita talvez aquela que seja uma das funções mais nobres de uma narrativa: a de prender e entrelaçar quem tem contato com a história contada.

Em a Dúvida, John Patrick Shanley narra com o talento da simplicidade uma história que se passa em 1964, no Bronx, em Nova Iorque, em uma escola católica, dirigida pelas irmãs da Caridade. Os personagens principais dessa narrativa são o carismático padre Brendan Flynn, suspeito de abusar sexualmente de um menino negro de 12 anos, a rigorosa irmã Aloysius Beauvier, que acusa o religioso, e a jovem irmã James que levantará as suspeitas de pedofilia que recaem sobre o padre.

A trama construída por Shanley é envolvente, mas com um “porém”, ela não tem respostas prontas. O enredo nos oferta a rara possibilidade de tirarmos as nossas próprias conclusões, construir uma rede de intrigas lançando mão de valores morais e éticos constituídos na sociedade ou, simplesmente, exercitarmos o direito à dúvida, e de permanecermos na incerteza.

O enredo de Shanley não tem pretensões de esclarecer. Pelo contrário. Opta por celebrar o fato de que nunca temos a exata certeza das coisas. Intencionalmente, fala sobre a “cultura do tribunal”, onde, hoje, muito rápido nos lançamos ao julgamento e ao veredicto. Argumenta que quase sempre temos respostas prontas para tudo e mostra que a dúvida tornou-se sinônimo de fraqueza. Deste ponto, defende a dúvida como um ato de coragem e uma passagem para o crescimento.

Entretanto, para o cinema é preciso muito mais do que bom enredo. Muitos filmes com grandes histórias já se tornaram grandes fracassos. É preciso algo mais. O filme a Dúvida (Doubt, USA, 2008) demonstrou ter esse algo a mais. A começar por se tratar de uma história escrita para o teatro, consagrada com o prêmio Pulitzer de melhor drama, em 2005, que adaptada para o cinema garantiu sucesso semelhante ao dos palcos. Lançado no final de 2008, o filme começou 2009 conquistando cinco indicações da Academy Awards.

Shanley domina a linguagem cinematográfica. Ele faz isso no mais absoluto formato hollywoodiano de narrar, sem grandes vertigens. Nos primeiros planos do filme o espectador é prontamente munido de dados para entender e se permitir enveredar pela história. O exemplo disso é a seqüência inicial na qual apresenta o cenário e o contexto da história: a América de 1964, seus costumes, seus hábitos, abalada pela morte de John Kennedy e sob os ventos da mudança de uma época que reivindica direitos civis, mudanças nas escolas segregadoras e nos valores da Igreja Católica.

Também, logo no início, os personagens são apresentados. Entre eles, os três que vão movimentar boa parte da trama: Irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), Padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman) e Irmã James (Amy Adams). É durante a longa seqüência do sermão do padre Brendan Flynn sobre o sentimento da dúvida que Meryl Streep faz a sua entrada triunfal, anunciando que de fato o filme começou. Streep faz o filme crescer logo no início. Ela sustenta a emoção da história durante toda a narrativa até o final quando presenteia o espectador com o sentimento mais perturbador que o filme proporciona.

Depois de assistir a Dúvida, o espectador sai com pelo menos duas certezas. A primeira é que não dá para duvidar do talento de Meryl Streep. A outra é que Shanley está redimido do seu passado duvidoso como roteirista de Congo (Congo, USA, 1995). Aos 58 anos com a Dúvida, Shanley, enfim, reencontra o sucesso que teve como roteirista de Feitiço da Lua (Moonstruck, USA, 1987) e ainda mostra que pode ser um bom diretor, bem melhor do que o foi 19 anos atrás, na sua primeira experiência com a direção em 1990 com Joe contra o Vulcão (Joe versus the Volcano, USA, 1990).


* É mestre em Ciências da Comunicação e especialista em Cinema pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos/RS). É professora e coordenadora do Curso de Cinema e Audiovisual da UFPA.

Ficha Técnica
Título Original: Doubt
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 104 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.doubt-themovie.com
Estúdio: Scott Rudin Productions / Goodspeed Productions
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures / Miramax Films
Direção: John Patrick Shanley
Roteiro: John Patrick Shanley, baseado em peça teatral de John Patrick Shanley
Produção: Mark Roybal e Scott Rudin
Música: Howard Shore
Fotografia: Roger Deakins
Desenho de Produção: David Gropman
Direção de Arte: Peter Rogness
Figurino: Ann Roth
Edição: Dane Collier e Dylan Tichenor

Elenco
Meryl Streep (Irmã Aloysius Beauvier)
Philip Seymour Hoffman (Padre Brendan Flynn)
Amy Adams (Irmã James)
Viola Davis (Sra. Miller)
Alice Drummond (Irmã Veronica)
Audrie J. Neenan (Irmã Raymond)
Susan Blommaert (Sra. Carson)
Carrie Preston (Christine Hurley)
John Costelloe (Warren Hurley)
Lloyd Clay Brown (Jimmy Hurley)
Joseph Foster (Donald Miller)
Bridget Megan Clark (Noreen Horan)
Mike Roukis (William London)
Frank Shanley (Kevin)
Frank Dolce (Ralph)
Paulie Litt (Tommy Conroy)
Matthew Marvin (Raymond)

Nenhum comentário:

Postar um comentário